Ard 1


Anos de improdutividade e distancia da estética que eu gosto de chamar de minha, embora seja extremamente referencial, me fizeram repensar a problemática da arrogancia. Eu sempre persegui uma delicadeza quase de balé classico como arma contra toda a dor. Se eu fosse bem delicado, as pessoas enxergariam também a forca e a voracidade dos meus passos. Mas o mundo é também de força bruta e, nem por isso menos bela.
O que quero dizer é que utilizando pessoas que se dizem poetas, atores, fotógrafos e tudo o mais no campo da criatividade (mas cujo único projeto é ser visto como artista) como referencia negativa, eu me separei de algo que é essencial pra minha produção: acreditar que o que eu faço tem valor e que pode interessar outras pessoas.
Esse medo de ser pretencioso me custa tanto porque muito das minhas fotografias e textos falam de um ponto de vista exterior ao movimento do mundo, ainda que muito íntimo, por vezes. E esse lugar de fala ignorado usa como defesa um ar de superioridade: "não pertenço à humanidade, mas também nem queria..." e é difícil, especialmente escrevendo em blogs, de separar quem eu sou como pessoa do lugar de fala dos meus textos.
A solução que encontrei para deixar de ignorar o que eu escrevo e fotografo é explicar o desprezo e a arrogancia nos meus textos e fotos, como se eu pecasse e corresse pra confissão pra explicar minhas intençoes.


exemplo: essa foto no começo do post é de um prédio que fica numa das ruas mais movimentadas de Dublin. Nesse dia, em específico, eu reparei que todo mundo parecia vestido com roupas caras e carregando sacolas de marcas famosas etc. Mas uma menina, como eu, saindo de uma dessas lojas de 1,99/1,50/1,00 pareceu ter levado um choque ao sair da loja. Então imaginei como uma pessoa escaparia do sentimento de inferioridade que acontece a todo tempo no mundo capitalista quando você só se acredita valoroso se for financeiramente. E a resposta foi: olhar para cima, ignorar as pessoas desfilando/encarando e olhar pro horizonte...


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